sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ainda, sobre o amor


 E é simplesmente nisto que o amor é maltratado: as pessoas partem, esquecem as palavras, as fotografias, as promessas, mas esquecem também que um dia alguém abriu o peito e de lá retirou um pedaço de humanidade para colocar nas nossas mãos. Na esperança de que respeitássemos sempre aquele pedaço vivo e único que retrata a pessoa com quem estamos e que ali permanece nas nossas mãos, mais ou menos amachucado quando deixamos de estar também.
  E as pessoas não respeitam. E mesmo sabendo, atiram para um qualquer lugar sujo e escuro aquele bocado de nós tão, mas tão importante que partilhámos, não pensado sequer que isso é diminuir a outra pessoa. Que isso é maltratar o amor que um dia existiu ou que se julgou existir. Que isso é simplesmente demonstrar que nunca estenderam realmente as mãos para nos receber nem por pedaços, nem por inteiro nas suas vidas.
  Porque mesmo quando se deixa de gostar de alguém de quem já se gostou muito ou pouco, ainda conhecemos essa pessoa ou temos uma ideia de como a conhecíamos, e faremos de tudo para a respeitar, pois sabemos o que as magoa, o que as irrita, o que as transtorna, o que as incomoda, o que as faz sentir mal. E é aqui que quase toda a gente maltrata o amor: bate a porta atrás de si e faz de conta que não sabe nunca como aqueles olhos já choraram com determinadas palavras, esquece-se em como já reconfortou aquele peito por lhe terem magoado assim ou assado, ignora os medos, as mágoas que lhes foram confidenciadas ao ouvido nos momentos de entrega e se for preciso pisa esse mesmo coração da mesma forma ou de outra.

1 comentário:

Rita disse...

As pessoas não esquecem, as pessoas fingem esuqecer, o que é uma grande diferença.